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quarta-feira, 1 de julho de 2009

60.000 estudantes secundaristas tomam as ruas da Áustria. Despertar da primavera


A SEGUIR REPRODUZIMOS UM ARTIGO DO JORNAL MARXISTA EL MILITANTE SOBRE A SITUAÇÃO DAS MOBILIZAÇÕES JUVENIS NA ÁUSTRIA

Em dezembro e janeiro apareceram uma série de artigos no jornal alemão Die Zeit [N.T. O Tempo] intitulado: “A juventude em estado de agitação”.

Podia-se ler que os estudantes na Itália haviam se manifestado nas ruas junto aos trabalhadores, na França os estudantes haviam protestado contra a reforma educacional e a juventude na Grécia havia participado numa rebelião massiva que sacudiu o país. 

milhares nas ruas

OS ESTUDANTES SE DEFENDEM

Na sexta passada, mais de 60 mil estudantes secundaristas se manifestaram por toda a Áustria, contra a supressão dos cinco dias de férias e para exigir um aumento do gasto no sistema educativo público. É o maior movimento estudantil de secundaristas na história da Áustria.

No ar há um sabor de revolução. Cerca de 25 mil estudantes tomaram o centro da cidade de Viena. Foi mais que uma simples manifestação, como uma grande festa com uma mescla de ódio e raiva contra o governo. Desde Stephansplatz ao parlamento se manifestou uma impressionante massa de estudantes e desde o parlamento até a sede do Ministério de Educação. Parecia que ninguém queria parar, realmente nenhuma organização levava a direção. 


A Áustria nunca viu um movimento tão espontâneo e com tanta iniciativa. Muitos estudantes levavam suas próprias bandeiras e panfletos, inclusive alguns haviam feito panfletos à mão. A chamada de greve se estendeu rapidamente através de mensagens de texto por telefone móvel, correios eletrônicos e o boca-a-boca. Mas não só em Viena os institutos ficaram vazios sexta. Em Linz, 15 mil saíram às ruas, em Salzburgo foram 8 mil, em Dornbirn (Vorarlberg) 3.500, inclusive em cidades muito pequenas os estudantes organizaram manifestações. No total, pelo menos 60 mil participaram em diferentes manifestações por todo o país.

Este estalo de raiva foi precedido por várias greves estudantis nas semanas anteriores. O movimento se iniciou em Vorarlberd onde as Juventudes Socialistas, dirigidas pelos marxistas, convocaram uma greve estudantil no dia 18 de março, em solidariedade com a luta dos professores contra a prolongação de sua jornada de trabalho. A palavra-de-ordem dessa greve foi: “Não pagaremos sua crise” e tinha uma orientação anticapitalista clara. O êxito dessa greve com mais de 1500 estudantes nas ruas de Dornbirn foi uma inspiração para os estudantes de outras zonas do país. Foi seguida pelo 2 de abril, com manifestações nas quais participaram mais de mil estudantes tanto em Viena como em Linz, protestavam contra a política educativa do governo. “Dinheiro para as escolas, não para os bancos” foi uma das principais reivindicações dos estudantes. Novamente a corrente marxista Der Funke jogou um papel crucial na organização destas greves, por exemplo, em Liz, onde somente nós convocamos esta greve.

Estas greves retiraram o potencial para um movimento maior. Até agora as grandes organizações estudantis e a direção nacional das Juventudes Socialistas permaneceram passivas. Especialmente as organizações juvenis socialdemocratas não estavam dispostas a organizar um movimento contra a “vermelha” ministra da educação. Entretanto, o fato de que um número cada vez maior de ativistas das Juventudes Socialistas estejam participando no movimento, finalmente lhes obrigará a fazer algo quando se retomarem as escolas depois das férias de Páscoa. Um dia antes do debate sobre o orçamento federal de 2009-2010, no parlamento, foi organizado uma greve estudantil nacional, para exigir um aumento do gasto no sistema educativo, e uma reforma real do sistema escolar, pautado nos interesses dos estudantes.

Os novos planos orçamentários do governo pretendem reduzir massivamente o gasto na educação, ainda que a grande coalização tenha chegado ao cargo com a promessa de iniciar uma “ofensiva em educação”. A ministra de educação Claudia Schmied exigiu recentemente que os professores trabalhassem duas horas a mais semanalmente, sem aumento salarial. Os professores deviam dar duas horas mais de seu trabalho para ajudar o governo a manter o gasto dentro do orçamento. Mas por quê os professores devem pagar a crise? Esta medida significaria a destruição de milhares de empregos, especialmente de jovens professores que já estão preocupados porque cada vez são mais os que engrossam as listas das paralisações.

Ameaçado por um dia nacional de ação dos professores, ao fim o governo renunciou a seus planos de aumentar a jornada de trabalho dos professores. Foi uma vitória importante para o sindicato dos professores e foi um exemplo que demonstrava como é possível defender os interesses da classe trabalhadora através da ação combativa.

O sindicato dos professores está dominado tradicionalmente pelos cristão-democratas, sua direção está muito vinculada ao conservador Partido Popular. Não é uma surpresa que ao fim, a direção do sindicato aceitasse o argumento do governo de que os professores devem pagar pela crise. Fora o cancelamento do pagamento extra por trabalho administrativo, etc., o sindicato dos professores saiu com a proposta de eliminar os “cinco dias escolares autônomos”, as férias que cada escola pode dizer quando quisesse. Com esta medida, o sindicato dos professores fazia uma espécie de concessão simbólica à chamada “opinião pública” de que os professores deveriam trabalhar mais. O governo aceitou esta proposta, pensando que havia alcançado um acordo com o sindicato, que evitaria um grande movimento grevista.

A ministra estava otimista e pensava que podia seguir adiante com seus planos. Entretanto, levou uma grande surpresa. Longe de evitar o movimento, este acordo foi a gota que encheu o vidro de uma situação que tinha um caráter explosivo entre os estudantes.

Superficialmente, este imenso estalo de raiva está vinculado à defesa das férias. Entretanto, as manifestações do dia 24 de abril eram muito mais que isto. É o protesto de uma geração de jovens que podem ver que não tem uma perspectiva real na vida, que ninguém está interessado em suas opiniões, uma geração farta de não ter verdadeiros direitos democráticos. 


Nos dias anteriores à greve, os meios de comunicação burgueses tentaram ameaçar os estudantes com a ideia de que conseguiriam más notas e sofreriam “consequências” terríveis, os diretores ameaçaram os estudantes com a polícia. Mas isto não teve um efeito sobre os estudantes e não pôde parar o incremento do movimento, pelo contrário!

Já as primeiras greves haviam revelado que estava se produzindo entre os estudantes uma radicalização nova. Nas manifestações, as palavras-de-ordem anticapitalistas e revolucionárias eram muito populares. Nunca havia se visto tantos estudantes participando deste tipo de greves e estavam preparados para participar ativamente na política. Em Vorarlberg dezenas de estudantes já entraram nas Juventudes Socialistas e formaram novas agrupações. Em Viena e Linez dezenas de jovens firmaram nas folhas de contato do Der Funke e querem praticipar.

Os marxistas do Der Funke colocaram a ideia de que o movimento agora deve continuar. O governo, por agora, não está preparado para dar novas concessões e espera que as greves de massas sejam só um êxito efêmero. Agora o movimento tem que demonstrar sua determinação. É possível a vitória com a condição de que possa aumentar a pressão sobre o governo. Isto só será possível se o movimento desenvolver formas apropriadas de organização. As primeiras greves foram relativamente espontâneas. Em pouco tempo foram possíveis estas mobilizações de massas. Em cada escola devem se eleger comitês de ação e preparar a próxima greve. Além disso, estes comitês deveriam coordenar-se em nível regional e nacional. Nós marxistas daremos exemplo organizando estes comitês e congressos regionais de estudantes em Vorarlberg, Linz e Viena. A tarefa e o dever das Juventudes Socialistas é fazer o mesmo em todas as regiões e nacionalmente. 


A questão da defesa de nossas férias deve ir junta à reivindicação de um aumento do gasto em educação e a reforma do sistema educativo (turmas menores, não à seleção social, etc.). Nossa palavra-de-ordem principal tem que ser que não pagaremos a crise capitalista de nenhuma maneira, e devem pagar-la os empresários. Mas estas reivindicações só podem se conseguir vinculando o movimento estudantil, a classe trabalhadora e as lutas entre sindicatos e empresários, para defender os salários e as condições de vida da classe operária.

Nossa perspectiva deve ser um dia nacional de luta em todos os setores afetados pela crise. Nas próximas semanas poderemos ver greves importantes nas editoras e dos trabalhadores do setor químico contra os cortes salariais. Dentro dos sindicatos e do SPÖ estalou um debate aberto sobre a introdução de um imposto adequado. Há um fermento importante dentro das filas do movimento operário. O movimento estudantil pode jogar um papel importante em empurrar adiante a classe operária. A corrente marxista jogará um papel ativo lutando por esta perspectiva entre os estudantes.


Quinta-feira, 7 de maio de 2009

Tradução: Lucas Morais

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